Jussier Lourenço é fotógrafo e servidor público federal. É membro do Poty Fotoclube desde 2022. Em janeiro deste ano, Jussier esteve envolvido em um projeto de pesquisa que o levou pela segunda vez à Amazônia para fazer registro dos fungos que habitam naquela região. Fiquei muito curioso com esse projeto, não conhecia a tamanha importância dos fungos para planeta, e nunca havia parado para apreciar fotografias do tipo. Ao retornar dessa aventura, convidei o Jussier para um bate-papo que virou a entrevista que você pode ler abaixo.
Alberth Klinsmann
Diretor de Comunicação do Poty Fotoclube
Diretor de Comunicação do Poty Fotoclube
Quem é Jussier Lourenço? Qual a sua ligação com a fotografia?
Eu sou um cara inquieto que busca perguntas em tudo. Desde criança, a fotografia foi controversa ao longo da minha história. Se, por um lado, eu odiava ser fotografado, por outro, o operador daquele instrumento me fascinava, seja por ofício ou diversão. Entretanto, ser fotógrafo me parecia algo distante e sempre foi deixado de lado, seja pela perspectiva financeira, seja pelo tempo ocupado por outros passatempos.
Como surgiu esse projeto? E qual o seu objetivo principal?
O convite foi feito pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Dr. Bruno Tomio, que atua na área de botânica e micologia, com especial ênfase em taxonomia e sistemática de fungos. Atualmente, trabalho como servidor nessa mesma universidade.
Ele tem vários projetos que coordena, e um deles é o que estuda a micobiota em solo e serapilheira sob efeito de degradação. O objetivo do projeto é avaliar as comunidades de fungos em áreas naturais e degradadas da Amazônia, a fim de compreender os efeitos da degradação na biodiversidade e definir futuras estratégias de conservação e/ou restauração desses fungos e plantas associadas. O projeto vai mais além, mas acredito que não sou a pessoa adequada para falar sobre, afinal, não tenho especialização nessa área.
Por que a região amazônica?
A Amazônia abriga uma das maiores parcelas da biodiversidade global, especialmente em espécies vegetais que podem contribuir para uma maior diversidade de microrganismos no solo e na serapilheira. No entanto, é o bioma brasileiro com menor número de inventários de diversidade para muitos grupos de fungos, especialmente na porção mato-grossense da Amazônia, onde nenhum trabalho com esse grupo foi efetivamente publicado.
Quem mais esteve envolvido nesse projeto?
Além do professor Bruno Tomio, o projeto contou com a participação de outros pesquisadores, estudantes e colaboradores de diferentes instituições, como a UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Quanto a mim, tive a oportunidade de acompanhar algumas das expedições realizadas pelo projeto, registrando as paisagens, as coletas e os bastidores da pesquisa científica na Amazônia.
Você já tinha passado por alguma experiência fotográfica parecida?
Sim, no ano de 2022, eu também acompanhei essa equipe em outra região no sul da Amazônia.
Como foi o processo de preparação para essa aventura? Que equipamentos você utilizou?
Na minha ida em 2022, eu não tinha muita ideia do que eu iria encontrar por lá e nem havia fotografado fungos antes. Assim, ao receber o convite do professor Bruno para documentar as espécies durante a expedição, eu tive que correr contra o tempo para estudar como fotografar fungos. Descobri que existem muitos fotógrafos especialistas em fungos pelo mundo, entrei em contato com alguns, fiz um curso online e minha referência principal foi o Taylor Lockwood, que inclusive já veio à UFRN fotografar um fungo na mata que fica lá no centro. Essa foi minha primeira dificuldade, pois apesar de ser uma foto macro, o ambiente não é controlado. Em segundo lugar, nós iríamos à Amazônia, o ambiente é hostil e eu não queria atrapalhar ninguém e, principalmente, eu tinha que voltar para casa (risos). Então, entrei em contato com amigos que já estiveram lá e me passaram muitos detalhes do que iria encontrar e as possíveis adversidades que estavam presentes, afinal é uma mata bem diferente da atlântica que temos contato. Quanto aos equipamentos, além dos de segurança pessoal (roupas adequadas, perneira, repelente, tela mosquiteira, etc.), os fotográficos que usei foram:
Câmeras - Canon EOS 80D, Canon 5D Mark II, Canon EOS R, Canon G7X Mark II e GoPro 12;
Lentes - Canon EF-S 60mm f/2.8 Macro USM, EF 100mm f/2.8 Macro USM, EF 70-200mm f/4L USM e EF 17-40mm f/4L USM.
Além de tripé, microfones e Iluminador LED. Na minha primeira expedição, eu confeccionei um difusor, comumente usado para foto macro de insetos, mas não funcionou comigo. A floresta é muito densa e caminhar com ele entre as árvores e seus cipós se mostrou ineficiente para mim.
Câmeras - Canon EOS 80D, Canon 5D Mark II, Canon EOS R, Canon G7X Mark II e GoPro 12;
Lentes - Canon EF-S 60mm f/2.8 Macro USM, EF 100mm f/2.8 Macro USM, EF 70-200mm f/4L USM e EF 17-40mm f/4L USM.
Além de tripé, microfones e Iluminador LED. Na minha primeira expedição, eu confeccionei um difusor, comumente usado para foto macro de insetos, mas não funcionou comigo. A floresta é muito densa e caminhar com ele entre as árvores e seus cipós se mostrou ineficiente para mim.
Quais as principais dificuldades que você encontrou? E quais foram os maiores aprendizados?
As dificuldades foram inúmeras, pois se eu retornasse lá hoje, com certeza teria outras para vivenciar. Mas, durante essas duas expedições, algumas se destacaram, por dificultarem muito o trabalho de fotografar e gravar: a iluminação, pois a floresta é muito fechada; as cobras, pois os fungos normalmente ficam no solo próximo às árvores, e eu tinha que me abaixar e nem sempre havia tempo de checar se elas não estavam embaixo das folhas ou em algum buraco de um tronco de árvore; as abelhas, pois quanto mais suado eu ficava, mais elas se aproximavam de mim; as formigas, pois não era uma boa ideia ser mordido por uma tucandeira; os mosquitos, que sempre estavam próximos, seja picando e/ou zumbindo; e os outros animais, que sabíamos estarem por lá, mas graças a Deus, eles não quiseram aparecer. Outra coisa que dificultava muito era a umidade e os obstáculos que a floresta impunha naturalmente. Eu precisava ter um certo condicionamento físico e conhecer o meu corpo, pois facilmente eu poderia desidratar.
Quanto aos aprendizados ao longo destas jornadas, sem dúvida conhecer as pessoas que vivem nestes locais remotos foi o maior deles. A simplicidade e a inteligência dessas pessoas são inspiradoras.
Onde o trabalho será publicado? O público fora da academia terá acesso?
As imagens feitas nesta última expedição vão para uma organização chamada SPUN (Sociedade para a Proteção da Natureza) e, tão logo eles façam a aprovação do conteúdo, será publicado no site deles (https://pt.spun.earth/). Quanto às imagens de fungos, eu publico no meu site e nas minhas redes sociais (@jussierlourenco).
Em sua opinião, qual a relevância da fotografia para um projeto de pesquisa como esse?
A relevância é total, pois se trata de um documento histórico e científico de uma área que sofre com o desmatamento e uma possível extinção de alguma espécie, talvez ainda nem catalogada.
Esse projeto terá continuidade? Você tem planos para novos projetos como fotógrafo na área de pesquisa acadêmica?
Provavelmente, sim, pois ainda há uma gigantesca área a ser explorada e os cientistas são ávidos pela busca do novo. Quanto a mim, tenho planos sim de me tornar um profissional nesta área, pois esse meio ambiente desafiador combina muito com a minha história no esporte. Estar confortável no desconforto, acredito que seja uma característica fundamental para fazer esse trabalho com eficiência. E essa é uma característica que eu tenho!
Caso queira fazer uma conclusão ou deixar algum recado, a hora é agora!
Eu gostaria de agradecer ao professor Bruno Tomio pela oportunidade de participar desse projeto incrível e de aprender mais sobre os fungos e a Amazônia. Também quero agradecer a você por ler esse texto e se interessar pelo meu trabalho. Como diz aquela frase clichê: “nunca é tarde para começar algo que você ama”. Comece aos poucos e com muita dedicação, que os caminhos vão se abrindo sem você esperar.
No dia 05 de março de 2024, o Jussier Lourenço fez uma apresentação ao Poty Fotoclube com as fotografias feitas nas duas expedições pela amazônia de maneira comentada. Nela ele conta fatos curiosos e perrengues que passou para além da entrevista acima.
Caso queira conhecer mais sobre as expedições que o Jussier participou, e queira ver outras fotografias, além dos fungos, recomendo que assista o vídeo abaixo:
Para conhecer mais sobre o trabalho do Jussier, visite o jussierlourenco.com.br e o @jussierlourenco